Questão número 658529

O texto abaixo servirá de base para responder a questão.


A IDEALIZAÇÃO DO AMOR


(1º§) Eu estava a pensar na forma como se poderá entender o amor, à luz da minha formação. A minha perspectiva depende daquilo que o outro representa, se o outro é um prolongamento nosso, é uma parte nossa, como acontece muitas vezes, ou é uma idealização do eu de que falaria o Freud. No sentido psicanalítico, poder-se-ia dizer que o amor corresponde ao EU IDEAL e, portanto, à procura de qualquer coisa de ideal que nós colocamos através de um mecanismo de identificação projetiva no outro.

(2º§) Portanto, à luz de uma perspectiva científica, como é apesar de tudo a psicanalítica, o problema começa a pôr-se de uma forma um bocado diferente. Nesse sentido e na medida em que o objeto amado é sempre idealizado e nunca é um objetivo real, a gente, de fato, nunca se está a relacionar com pessoas reais, estamos sempre a relacionarmo-nos com pessoas ideias e com fantasmas.

(3º§) A gente vive, de fato, num mundo de fantasmas: os amigos são fantasmas que têm para nós determinada configuração, ou os pais, ou os filhos, etc. Portanto, devemos refletir sobre este fantasmagórico mundo em que vimos. (...)

(4º§) O amor é uma coisa que tem que ver de tal forma com todo um mundo de fantasmas, com todo um mundo irreal, com todo um mundo inventado que nós carregamos conosco desde a infância, que até poderá haver, eventualmente, amor sem objeto. Reflitamos, entendamos, procuremos conviver com os fantasmas que nos cercam na vastidão do mundo.

(5º§) O amor não será, assim, necessariamente, uma luta corpo a corpo, ou uma luta corporal, mas pode ter que ver realmente com outras coisas, uma idealização, um desejo de encontrar qualquer coisa de perdido, nosso, que é normalmente isso que se passa, no amor neurótico, ou mesmo não neurótico. Quer dizer, é a procura de encontrarmos qualquer coisa que a nós nos falta e que tentamos encontrar no outro e nesse caso tem muito mais que ver conosco do que com a outra pessoa. Normalmente, isso passa-se assim e também não vejo que seja mau que, de fato, se passe assim.

(António Lobo Antunes, in Diário Popular - 2019)

Analise as assertivas sobre a mensagem do (1º§).


I.A voz do texto escreve no momento em que busca depreender algo do próprio emocional, de acordo com a sua própria formação.

II.A frase: "A minha perspectiva depende daquilo que o outro representa ..." sugere a importância de outro ser na extensão da vida da voz do texto.

III.Quando a voz do texto se refere ao psicanalista Freud, comprova-se a rejeição incontestável que tem pelo outro.

IV.No (1º§), temos um exemplo de mesóclise justificada pelo fato de o verbo estar no futuro do pretérito do modo indicativo, iniciando uma oração, logo após uma informação separada por vírgula.

V.O período: "através de um mecanismo de identificação projetiva no outro". - é simples porque a oração é absoluta.


Estão CORRETAS, apenas:

    A) Estão corretas I, III, IV e V.

    B) Estão corretas I, III e V.

    C) Estão corretas I, II e IV.

    D) Estão corretas II, III e V.

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