Questão número 665415

Menos plástico, mais amor

Eu provavelmente estava distraída quando os guardanapos das lanchonetes começaram a vir em invólucros de plástico. Você precisa abri-los antes de sujar as mãos, senão pode ser tarde e complicado demais. Isso me deixa irritada todas as vezes. Embora essa questão de natureza prática seja importantíssima, não é sobre ela que eu gostaria de falar. O que me intriga de fato é em que momento e por que nós começamos a exagerar tanto no uso das coisas plásticas (copos, pratos, mexedores, embalagens para um único canudo). Vou chamar o fenômeno de hiperassepsia. Será que alguém morreu por um guardanapo contaminado, e eu não fiquei sabendo?

    E quanto ao copo descartável que acompanha a garrafa também descartável, nós precisamos mesmo dele? E do prato de plástico contendo um muffin que, por sua vez, já está devidamente protegido por uma redoma cujo rápido destino é o lixo? E o que dizer dos seis saquinhos de shoyu ofertados por um único temaki? Quando as tele-entregas japonesas me mandam um porte de gosma verde sem perguntar (não gosto de wasabi, eu diria, lamento), tenho pontadas no coração pensando em todo aquele plástico desperdiçado. [...]

    O exagero dos plásticos parece estar ligado à tendência de querer agradar a qualquer custo. Pela natureza um tanto infantilizada dessa relação estabelecimento-cliente, talvez seja mais adequado usar a palavra mimar. Só isso pode explicar o que observo cotidianamente nos caixas de supermercado. Embora a maioria de nós seja perfeitamente capaz de pôr objetos dentro de uma sacola, nós temos empacotadores. E você já percebeu que esses empacotadores sãos instruídos a não colocar no mesmo saco uma pasta de dente e um pacote de biscoitos? A consequência disso é o uso de uma quantidade absurda de sacolas. Eu me pergunto que tipo de horror aconteceria caso esses itens, bem seguros dentro de suas respectivas embalagens, dividissem o mesmo espaço.

    Na minha sacola de pano, sob os olhos atônitos do empacotador que acabo de dispensar, é claro que tudo vai misturado. Continuo viva.

In: Uma estranha na cidade, de Carol Bensimon, Editora Dubliense, 2016.
https://www.escrevendoofuturo.org.br/blog/lit eratura-em-movimento/menos-plastico-maisamor/ (trecho) Acesso em: 18/11/20 
Qual a explicação, segundo o texto, para o fato de o empacotador não colocar uma pasta de dentes e um pacote de biscoitos em uma mesma sacola plástica?

    A) O fato de que poucos clientes utilizam sacolas de pano.

    B) O fato de cada produto está bem seguro em sua embalagem.

    C) A fragilidade do material da sacola plástica, que se rasga facilmente.

    D) A possível instrução para não misturar gênero alimentício com item de higiene.

    E) A preocupação do empacotador em lesar seu empregador no aspecto financeiro.

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