Questão número 668763

Coração numeroso

Foi no Rio.
Eu passava na Avenida quase meia-noite.
Bicos de seio batiam nos bicos de luz estrelas
inumeráveis.
Havia uma promessa do mar
e bondes tilintavam,
abafando o calor
que soprava no vento
e o vento vinha de Minas.

Meus paralíticos sonhos desgosto de viver
(a vida para mim é desejo de morrer)
faziam de mim homem-realejo imperturbavelmente
na Galeria Cruzeiro quente quente
e como não conhecia, ninguém a não ser o doce vento
mineiro,
nenhuma vontade de beber, eu disse: Acabemos com
ISSO.

Mas tremia na cidade uma fascinação casas
compridas
autos estendidos correndo caminho do mar
voluptuosidade errante do calor
mil presentes da vida aos homens indiferentes,
que meu coração bateu forte, meus olhos inúteis
choraram.

O mar batia em meu peito, já não batia no cais.
A rua acabou, quede como árvores?  a cidade sou eu
a cidade sou eu
sou eu a cidade
meu amor.

Fonte: ANDRADE, Carlos Drummond de.  Alguma
Poesia .
O título do poema se justifica, pois:

    A) o eu lírico, conquanto demonstre uma inadaptação ao espaço urbano carioca em princípio, valorizando apenas o espaço mineiro, passa a valorizar ambos.

    B) não há, segundo o que se constata no poema lido, espaço no coração do eu lírico para ambos os lugares, já que ele se apresenta muito arraigado a Minas.

    C) antecipa, de certa forma, o conteúdo do poema, já que não há valorização de ambos os espaços tratados pelo eu lírico.

    D) há espaço no coração do eu lírico para a família, os costumes e os amigos de Minas e do Rio de Janeiro.

    E) trata-se de uma metáfora para expressar que o eu lírico conquistou vários amores ao longo da vida.

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