Questão número 668766

Coração numeroso

Foi no Rio.
Eu passava na Avenida quase meia-noite.
Bicos de seio batiam nos bicos de luz estrelas
inumeráveis.
Havia uma promessa do mar
e bondes tilintavam,
abafando o calor
que soprava no vento
e o vento vinha de Minas.

Meus paralíticos sonhos desgosto de viver
(a vida para mim é desejo de morrer)
faziam de mim homem-realejo imperturbavelmente
na Galeria Cruzeiro quente quente
e como não conhecia, ninguém a não ser o doce vento
mineiro,
nenhuma vontade de beber, eu disse: Acabemos com
ISSO.

Mas tremia na cidade uma fascinação casas
compridas
autos estendidos correndo caminho do mar
voluptuosidade errante do calor
mil presentes da vida aos homens indiferentes,
que meu coração bateu forte, meus olhos inúteis
choraram.

O mar batia em meu peito, já não batia no cais.
A rua acabou, quede como árvores?  a cidade sou eu
a cidade sou eu
sou eu a cidade
meu amor.

Fonte: ANDRADE, Carlos Drummond de.  Alguma
Poesia .
Constata-se no verso “autos abertos correndo caminho do mar” o emprego de um recurso denominado elipse. Esse uso contribui para reforçar determinado efeito de sentido do verso; tal efeito está melhor apresentado na alternativa:

    A) reforçar a ideia de velocidade impressa pelos veículos.

    B) reforços o sentimento de inadaptação do eu lírico em relação ao Rio.

    C) reforçar o sentimento de nostalgia por Minas.

    D) reforçar a paixão despertada no eu lírico pelo Rio em detrimento de Minas.

    E) reforçar a ideia de obstáculo interposto ao eu lírico para chegar ao mar.

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