EU VEJO UMA GRAVURA
Eu vejo uma gravura
grande e rasa.
No primeiro plano
Uma casa.
À direita da casa
outra casa.
À esquerda da casa
outra casa.
Lá no fundo da casa outra casa.
Em frente da casa
uma vala:
onde escorre a lama
doutra casa.
E no chão da casa
outra vala:
onde escorre o esgoto
doutra casa.
Esta casa que eu vejo
não se casa
com o que chamamos
uma casa.
Pois as paredes são
Esburacadas
onde passam aranhas
e baratas.
E os telhados são
folhas de zinco.
E podem cair
a qualquer vento.
E matar a mulher
que mora dentro.
E matar a criança
que está dentro
da mulher que mora
nessa casa.
Ou da mulher que mora
noutra casa.
É preciso pintar
outra gravura
com casas de argamassa
na paisagem.
Crianças cantando
a segurança
da vida construída
à sua imagem.
JOANA EM FLOR, Reynaldo Jardim.
Textos como o acima apresentam caráter poético, pois podem ser considerados pertencentes ao gênero lírico, que, geralmente, utilizam uma linguagem carregada de subjetividade e emotividade. No entanto, no poema de Reynaldo Jardim, observa-se, pelas escolhas linguísticas do poeta, o predomínio de um determinado recurso de linguagem que se distancia, até certo ponto, da subjetividade comum aos poemas. Tal recurso está corretamente indicado na opção:
A) referencialidade, destacando elementos da realidade.
B) personificação de elementos do cotidiano.
C) interpelação ao leitor
D) objetividade observada no uso da 3ª pessoa do discurso.
E) completa neutralidade do emissor.