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TEXTO II
O menino está fora da paisagem
O menino parado no sinal de trânsito vem em minha direção e pede esmola. Eu preferia que ele não viesse. A miséria nos lembra que a desgraça existe e a morte também. Como quero esquecer a morte, prefiro não olhar o menino. Mas não me contenho e fico observando os movimentos do menino na rua. Sua paisagem é a mesma que a nossa: a esquina, os meios-fios, os postes. Mas ele se move em outro mapa, outro diagrama. Seus pontos de referência são outros.
Como não tem nada, pode ver tudo. Vive num grande playground, onde pode brincar com tudo, desde que de fora. O menino de rua só pode brincar no espaço entre as coisas. Ele está fora do carro, fora da loja, fora do restaurante. A cidade é uma grande vitrine de impossibilidades. O menino mendigo vê tudo de baixo. Está na altura dos cachorros, dos sapatos, das pernas expostas dos aleijados. O ponto de vista do menino de rua é muito aguçado, pois ele percebe tudo que lhe possa ser útil ou perigoso. Ele não gosta de ideias abstratas. Seu ponto de vista é o contrário do intelectual: ele não vê o conjunto nem tira conclusões históricas só detalhes interessam. O conceito de tempo para ele é diferente do nosso. Não há segunda-feira, colégio, happy hour. Os momentos não se somam, não armazenam memórias. Só coisas importantes: Está na hora do português da lanchonete despejar o lixo... ou estão dormindo no meu caixote...
Se pudéssemos traçar uma linha reta de cada olhar do menino mendigo, teríamos bilhões de linhas para o lado, para baixo, para cima, para dentro, para fora, teríamos um grande painel de imagens. E todas ao rés-do-chão: uma latinha, um riozinho na sarjeta, um palitinho de sorvete, um passarinho na árvore, uma pipa, um urubu circulando no céu. Ele é um espectador em 360 graus. O menino de rua é em cinemascope. O mundo é todo seu, o filme é todo seu, só que não dá para entrar na tela. Ou seja, ele assiste a um filme dentro da ação. Só que não consta do elenco. Ele é um penetra; é uma espécie de turista marginal. Visto de fora, seria melhor apagá-lo. Às vezes, apagam.
Se não sentir fome ou dor, ele curte. Acha natural sair do útero da mãe e logo estar junto aos canos de descarga pedindo dinheiro. Ele se acha normal; nós é que ficamos anormais com a sua presença.
Antigamente não o víamos, mas ele sempre nos viu. Depois que começou o medo da violência, ele ficou mais visível. Ninguém fica insensível a ele. Mesmo em quem não o olha, ele nota um fremir quase imperceptível à sua presença. Ele percebe que provoca inquietação (medo, culpa, desgosto, ódio). Todos preferiam que ele não estivesse ali. Por quê? Ele não sabe.
Evitamos olhá-lo; mas ele tenta atrair nossa atenção, pois também quer ser desejado. Mas os olhares que recebe são fugidios, nervosos, de esguelha.
Vejo que o menino se aproxima de um grupo de mulheres com sacolas de lojas. Ele avança lentamente dando passos largos e batendo com uma varinha no chão. Abre-se um vazio de luz por onde ele passa, entre as mulheres mães e filhas. É uma maneira de pertencer, de existir naquela família ali, mesmo que de fora, como uma curiosidade. Assim, ele entra na família, um anti-irmãozinho que chega. As mães não têm como explicar aos filhos quem ele é, por que eles não são como ele (análise social) ou por que ele não é como nós (analise política). Porém, normalmente, mães e pais evitam explicações, para não despertar uma curiosidade infantil que poderia descer até as bases da sociedade que os pais não conhecem, mas que se lhes afigura como algo sagrado, em que não se deve mexer.
O menino de rua nos ameaça justamente pela fragilidade. Isso enlouquece as pessoas: têm medo do que atrai. Mais tarde, ele vai crescer... e aí?
O menino de rua tem mais coragem que seus lamentadores; ele não se acha símbolo de nada, nem prenúncio, nem ameaça. Está em casa, ali, na rua. Olhamos o pobrezinho parado no sinal fazendo um tristíssimo malabarismo com três bolinhas e sentimos culpa, pena, indignação.
Então, ou damos uma esmola que nos absolva ou pensamos que um dia poderá nos assaltar. Ele nos obriga ao raríssimo sentimento da solidariedade, que vai contra todos os hábitos de nossa vida egoísta de hoje. E não podemos reclamar dele. É tão pequeno... O mendigo velho, tudo bem: Bebeu, vai ver a culpa é dele, não soube se organizar, é vagabundo. Tudo bem. Mas o mendigo menino não nos desculpa porque ele não tem piedade de si mesmo.
Todas nossas melhores recordações costumam ser da infância. Saudades da aurora da vida. O menino de rua estraga nossas memórias. Ele estraga a aurora de nossas vidas. Por isso, tentamos ignorá-lo ou o exterminamos. Antes, todos fingiam que ele não existia. Depois das campanhas da fome, surgiram olhares novos. Já sabemos que ele é um absurdo dentro da sociedade e que de alguma forma a culpa é nossa.
Ele tem ao menos uma utilidade: estragando nossa paisagem presente, pode melhorar nosso futuro. O menino de rua denuncia o ridículo do pensamento genérico-crítico , mostra-nos que uma crítica à injustiça tem de apontar soluções positivas. Ele nos ensina que a crítica e o lamento pelas contradições (como estou fazendo agora) só servem para nos enobrecer e absolver. Para ele, nossos sentimentos não valem nada. E não valem mesmo. Mesmo não sabendo nada, ele sabe das coisas.
Disponível em: https://www.otempo.com.br/opiniao/arnaldo-jabor/omenino-esta-fora-da-paisagem-1.887105
Português - Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto - Centro de Seleção e de Promoção de Eventos UnB (CESPE) - 2020
No que concerne às ideias e aos aspectos linguísticos do texto apresentado, julgue o item a seguir.
O texto evidencia o sentimento ambíguo de nostalgia e de deslocamento do autor em relação à sua cidade natal.
Analise as afirmativas a seguir:
I. Do ponto de vista da gramática normativa, o enunciado seguinte, com o pronome oblíquo, não é aceitável: É impossível, para mim, realizar este trabalho.
II. Os pronomes interrogativos, indefinidos e os demais pronomes têm por função principal apontar para as pessoas do discurso, ou se relacionar com elas, indicando-lhes sua situação no tempo ou no espaço. Em virtude dessa característica, os pronomes apresentam uma forma específica para cada pessoa do discurso.
Marque a alternativa CORRETA:
Uma Mente Brilhante
O filme Uma Mente Brilhante retrata a vida de John Nash, desde sua juventude até sua idade avançada, quando recebe o prêmio Nobel. John, uma mente brilhante na matemática, inicia seus estudos na universidade de Princeton. Tímido, introspectivo e solitário, quer descobrir uma teoria original, o que o torna arrogante aos olhos dos colegas de faculdade. Logo no início de seus estudos, ele divide o quarto com um amigo, Charles Herman, com quem vai manter amizade até depois de casar-se. Durante a faculdade, realiza uma descoberta que o destaca no universo acadêmico, posteriormente batizado de o teorema de Equilíbrio de Nash.
Após a faculdade, trabalha como professor e conhece sua futura esposa, Alicia Nash. Ele acredita ter sido convidado a participar de uma missão secreta, pela inteligência dos Estados Unidos, para desvendar códigos secretos enviados pelos russos a espiões nos EUA. Assim, conhece William Parcher, um espião que o acoberta e o socorre quando John corre perigo. Sua esposa começa a desconfiar de suas atitudes e pede ajuda médica. John é então internado, diagnosticado como esquizofrênico e tratado por um psiquiatra. Após vários anos de altos e baixos no tratamento, ele consegue retornar à universidade e lecionar. É mundialmente reconhecido pelas suas descobertas na matemática com o prêmio Nobel.
John provavelmente começou com os sinais e sintomas após a grande carga de stress ocasionada pela mudança para a universidade e a sua cobrança para descobrir uma teoria original. O indivíduo que desenvolve a esquizofrenia apresenta alucinações e delírios, como no caso de John Nash. Seu melhor amigo, e depois uma sobrinha dele, e o espião americano William, eram alucinações. Sobre os delírios, John criou uma realidade para seu psíquico em que ele era a chave para salvar os EUA de uma grande guerra e de um ataque com bomba russa.
Como John era introspectivo, levou-se muito tempo para descobrir a doença, e ele já estava em estado crepuscular quando sua esposa suspeitou que havia algo estranho em seu comportamento. Neste caso, o tratamento com psicotrópicos e acompanhamento do psiquiatra é fundamental. Infelizmente, como o caso ocorreu na década de sessenta, ele recebeu choques como parte do tratamento e ficou em hospital psiquiátrico por várias semanas.
Por Flávia Cristina Martins de Oliveira, em fevereiro de 2020 (disponível em: https://bit.ly/3eAYH4S). Com adaptações.
Leia o texto 'Uma Mente Brilhante' e, em seguida, analise as afirmativas abaixo:
I. Durante a faculdade, John Nash realizou uma descoberta que o destacou no universo acadêmico, posteriormente batizado de o teorema de Equilíbrio de Nash, de acordo com as informações apresentadas no texto.
II. Ao final do filme, descobre-se que a esposa de John Nash e vários outros personagens são, na verdade, alucinações, fruto da sua mente, de acordo com as informações apresentadas no texto.
III. De acordo com o texto, no filme, John Nash é internado devido a um câncer e, nesse momento, é também diagnosticado como esquizofrênico e tratado por um psiquiatra.
Marque a alternativa CORRETA:
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) lançou um apelo global para que se protejam mulheres e crianças em casa, desprotegidas pelo confinamento provocado pela pandemia da covid-19, que exacerba a violência doméstica.
António Guterres pediu o estabelecimento de sistemas de alerta de emergência em farmácias e lojas de alimentos, os únicos locais que permanecem abertos em muitos países.
Devemos garantir que as mulheres possam pedir ajuda de maneira segura, sem que os que as maltratam percebam, afirmou.
A violência não se limita ao campo de batalha, disse Guterres num vídeo em inglês, com legendas em francês, árabe, espanhol, chinês ou russo. Ele lembrou o apelo recente para um cessar-fogo em todos os teatros de guerra para melhor combater a doença.
Infelizmente, muitas mulheres e crianças estão particularmente em risco de violência exatamente onde deveriam ser protegidas. Nas suas próprias casas. É por isso que hoje apelo por uma nova paz em casa, nas casas, em todo o mundo, afirmou o secretário.
Nas últimas semanas, à medida que as pressões econômicas e sociais pioraram e o medo aumenta, o mundo vive um surto horrível de violência doméstica, disse.
Peço a todos os governos que tomem medidas para prevenir a violência contra as mulheres e forneçam soluções para as vítimas, como parte dos seus planos de ação nacional contra a covid-19, acrescentou António Guterres.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia de covid-19, já infectou mais de 1,2 milhão de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 68 mil. Dos casos de infecção, mais de 283 mil são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro de 2019, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar situação de pandemia.
Adaptado. Publicado em 06/04/2020, por RTP - Rádio e Televisão de Portugal, Lisboa, Portugal. Disponível em: https://bit.ly/2xWhLeo.
Leia o texto 'VIOLÊNCIA DOMÉSTICA' e, em seguida, analise as afirmativas abaixo:
I. O texto afirma que é necessário garantir que as mulheres possam pedir ajuda de maneira segura, ainda que aqueles que as maltratam percebam essa atitude.
II. De acordo com o texto, António Guterres pediu o estabelecimento de sistemas de alerta de emergência em farmácias e lojas de alimentos, os únicos locais que permanecem abertos em muitos países.
III. O novo coronavírus, responsável pela pandemia de covid-19, já infectou mais de 2,1 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 86 mil, afirma o texto.
Marque a alternativa CORRETA:
O atendimento ao usuário nos serviços de saúde
Em 2 de setembro de 2015.
O atendimento ao usuário na área de saúde envolve aspectos diversos sobre qualidade e humanização. Um serviço de atendimento a um paciente exige o envolvimento de todos os servidores da instituição. Assim, faz-se necessário entender que o atendimento ao usuário de saúde está em todos os cantos e recantos da instituição ou do hospital. Da equipe de limpeza aos gestores, passando pelos médicos, pelos enfermeiros e demais funcionários, todos precisam estar sintonizados com uma política de atendimento comum, para dar as respostas competentes e precisas a cada momento, cada um conforme suas atribuições, naturalmente.
Os usuários dos serviços de saúde mais do que quaisquer outros, necessitam de cuidados especiais, face à compreensiva fragilidade emocional a que estão submetidos. Atualmente, percebe-se que as organizações têm focado muito mais no aprimoramento do conhecimento técnico, do que nas habilidades e atitudes emocionais, tanto dos profissionais de saúde quanto do pessoal de apoio.
A qualidade no atendimento de saúde envolve aspectos muito mais amplos do que a qualidade do atendimento em qualquer outro tipo de organização. A qualidade no atendimento de saúde é sinônimo de humanização do atendimento, desde o momento da marcação da consulta até o consultório.
Assim, para uma adequada prática de atendimento, deve-se levar em conta que:
1 - o paciente está inserido em um contexto pessoal, familiar e social complexo;
2 - a assistência deve efetuar uma leitura das necessidades pessoais e sociais do paciente;
3 - na instituição, interatuam as necessidades de quem assiste e de quem é assistido.
Fonte: https://bit.ly/2VmHWDt (adaptado).
Leia o texto 'O atendimento ao usuário nos serviços de saúde' e, em seguida, analise as afirmativas abaixo:
I. O texto apresenta ao leitor a ideia de que a qualidade no atendimento de saúde envolve aspectos muito mais amplos do que a qualidade do atendimento em qualquer outro tipo de organização.
II. Da equipe de limpeza aos gestores, passando pelos médicos, pelos enfermeiros e demais funcionários, todos precisam estar sintonizados com uma política de atendimento comum, conforme sugere o texto.
Marque a alternativa CORRETA:
Gosto de ovo...
Por José Carlos L. Poroca (executivo do segmento de shopping centers)
Observem que o título está, no mínimo, comprometido, meio sem graça. Gosto de ovos, sim fritos ou cozidos. E fiquei muito tempo regulando a quantidade que poderia ter ingerido, porque havia uma crença e uma recomendação que ovos produziam excesso de colesterol. O que deixei de comer (ovos) durante anos poderá fazer falta adiante e não vou perdoar os que difundiam essa crença. Nada farei, sob o ponto de vista do direito do consumidor. Vou apenas rogar uma praga para os que incentivaram a economia no hábito de comer ovos: que nasçam furúnculos nas bochechas, nas partes internas das coxas e em outras partes do corpo.
O título correto seria gosto de ovo e de enxofre. O gosto do título e da frase era para ter um acento circunflexo, acento que foi derrubado pela nova ortografia que nem é tão nova assim. Resultado: surgem interpretações mil em cima de uma única palavra ou de uma frase. Não havia necessidade de mudança e, aí, vêm as perguntas: pra quê? por quê? a troco de quê? Evidente que alguém ganhou nessa história, não sei de que forma. Mas sei que essa mudança continua causando confusão, sob vários aspectos.
Vejam alguns exemplos que a revisão trouxe: insosso de estar sem sal e do (a) cara que é sem sal; choro tão fácil: choro, de chorar; choro, variação do verbo chorar; pelo com acento, a gente sabia que havia cabelo, pelo ou pentelho; hoje, ficamos na incerteza, porque se confundiu com outros pelos; o doce, sem o circunflexo, ficou menos doce, menos saboroso. Os exemplos, até por falta de espaço, não são poucos, são inúmeros.
O título completo seria gôsto de ovo e de enxofre, que é o sabor que fica na parte sensorial da minha língua, quando leio determinados depoimentos e certas justificativas de alguém que cometeu um erro crasso, a chamada justificativa sem explicação, como a declaração do moço que escondeu money na parte traseira do corpo e, ainda por cima, com vestígios do material que se deposita no cofre traseiro. Quem já nasce torto não tem jeito, morre como nasceu, ou seja, por mais que tente, não adianta mostrar o que a folhinha não marca. O ascendente de José Carlos Carlinhos de Oliveira, Jacó (ou Jacob) do Pinto, judeu que se converteu sob a navalha no pescoço ao catolicismo, foi visto lendo a Bíblia de trás pra frente, no século XVII, no Recife, PE, quando os holandeses foram expulsos pelos portugueses. Não teve segunda chance. A chamada desculpa esfarrapada ou justificativa inservível para corrigir o que está errado é o mesmo que ovo podre: intragável, incomestível, mal cheiroso e com mau gosto.
(Adaptado. Revisão linguística. Disponível em: https://bit.ly/3oiRw6N. Acesso em 21 nov. 2020).
Leia o texto 'Gosto de ovo...' e, em seguida, analise as afirmativas abaixo:
I. Um recurso evidente no texto é o uso do presente progressivo, como nos trechos ... essa mudança continua causando confusão, sob vários aspectos; E fiquei muito tempo regulando a quantidade que poderia ter ingerido.... Nesse caso, trata-se de ações pontuais e de propriedade permanente.
II. A ideia principal do texto é a de que apenas a língua portuguesa possui palavras homônimas e que, por isso, ela é uma língua complexa e difícil de ser aprendida.
III. O texto procura traçar um paralelo entre as bases históricas da língua portuguesa e as influências trazidas pelas redes sociais, em relação à forma como os jovens têm se comunicado, para, por fim, criticar o sistema de ensino brasileiro.
Marque a alternativa CORRETA:
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