O politicamente correto é uma chatice. Para piorar, ele tem razão.
O banimento de algumas marchinhas carnavalescas é só mais um capítulo na novela do politicamente correto. Fenômeno mundial, mais intenso em alguns lugares do que em outros, a ideia por trás dele é muito bem intencionada: a linguagem cotidiana não apenas refletiria as diferenças históricas existentes entre grupos (privilegiados versus desprivilegiados, por exemplo), como também favoreceria a manutenção dessas diferenças. Se livrarmos a linguagem dessas influências, podemos ao menos reduzir um dos fatores que perpetuam injustiças.
Duas grandes questões precisam ser respondidas. A primeira é se essa é apenas uma opinião ou se há evidências empíricas de que seja verdade. A segunda, e tão importante quanto, é descobrir por que o politicamente incorreto incomoda tanta gente. Se conseguirmos encontrar essas respostas, pode ficar mais fácil decidirmos que rumo tomar como sociedade.
Para os críticos do politicamente correto, o mundo está ficando muito chato: levar a sério marchinhas carnavalescas com conteúdo hoje considerado preconceituoso seria uma bobagem. Nesse quesito, contudo, as evidências científicas apontam para outra direção. Vários experimentos realizados sobre o tema mostram que, por um lado, o humor não faz as pessoas se tornarem preconceituosas. Ninguém ouve uma música e pensa, É mesmo! Negros são inferiores, como nunca me dei conta?. Por outro, as piadas criam um ambiente de aceitação à discriminação assim, quem já acreditava existir diferenças qualitativas entre grupos sentese menos constrangido e tem mais chance de agir de forma discriminatória. Não por acaso, são as pessoas que mais se divertem com esse tipo de humor. [...]
(Adaptado. Trecho extraído de BARROS, D. M. de. O politicamente correto é uma chatice. Para piorar, ele tem razão. Disponível em: https://bit.ly/34eHqer. Acesso em: mar 2020)