Questões de Filosofia

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O pensamento ético-cristão, nomeadamente em Agostinho e Tomás, retoma a ética platônico-aristotélica, mas a redimensiona no horizonte da compreensão bíblica. Considerando esse assunto, assinale a opção correta acerca da referida ética cristã.

  • A.

    A felicidade é o fim último do homem; e a virtude, o meio para o homem alcançar a felicidade. Além disso, a felicidade suprema pode ser alcançada nesta vida.

  • B.

    O homem é imagem e semelhança de Deus, dotado de inteligência, livre-arbítrio e de domínio sobre os seus atos. Ele abraçará não somente as virtudes naturais, mas também as virtudes sobrenaturais da graça, como fé, esperança e caridade.

  • C.

    Virtude é uma questão de dever e, dessa forma, não possui relação com felicidade, visto que o cumprimento do dever é penoso para o homem, e a felicidade é um sentimento de contentamento pleno.

  • D.

    A justiça e a prudência são as virtudes supremas; além destas virtudes, que estão ao alcance do homem, não há outras.

  • E.

    A felicidade consiste no prazer e no bem-estar material.

Com relação à ética kantiana, assinale a opção correta.

  • A.

    A vontade é boa quando o homem age movido por suas paixões, e não quando quer e age movido apenas pela consideração ou pelo respeito ao dever.

  • B.

    A boa vontade é um meio para um fim, valendo tanto quanto os resultados efetivos que ela alcança.

  • C.

    A boa vontade pode ser entendida a partir do dever e do querer autônomo. Dever é a necessidade de uma ação feita por respeito à lei moral. A lei moral, porém, é dada pela racionalidade prática do sujeito. Ter boa vontade é seguir o imperativo categórico da razão.

  • D.

    Submissão ao dever e autonomia do querer se contradizem. Logo, são incompatíveis para funcionar como princípios éticos ao mesmo tempo.

  • E.

    O homem não pode conhecer objetivamente, do ponto de vista da Crítica da razão pura, nem a liberdade, nem a imortalidade da alma, nem a existência de Deus. Logo, esses três temas devem ser excluídos da ética, na perspectiva de uma Crítica da razão prática.

Considerando o significado histórico (civilizatório-cultural) da ciência moderna, assinale a opção correta.

  • A.

    A ciência moderna é uma forma de poder, de domínio do real. A vontade de conhecimento que move a ciência expressa uma vontade de poder, em que nada deve permanecer velado.

  • B.

    A ciência é pura teoria do real, entendendo-se a teoria em sentido desinteressado. A ciência não tem nenhum interesse na dominação do mundo.

  • C.

    A ciência, em sua vigência no modo de ser moderno, é uma pura contemplação da realidade. Seu escopo é teorético, no sentido de descrever a realidade como ela é objetivamente.

  • D.

    Ciência é uma forma de consciência fixa e imutável, desprovida de historicidade.

  • E.

    Se há uma historicidade na ciência, essa consiste apenas no aumento de conhecimento; suas formas e sua essência permanecem intactas no decurso da história.

Assinale a opção correta acerca do racionalismo.

  • A.

    No racionalismo, entende-se que os sentidos fornecem ao homem um conhecimento certo e indubitável do real.

  • B.

    No racionalismo, considera-se mais a matéria do conhecimento que a sua forma.

  • C.

    No racionalismo, nega-se que haja ideias inatas, ou formas a priori no conhecimento humano e que se deva partir de axiomas para se construir a ciência.

  • D.

    Do ponto de vista metafísico, no racionalismo afirma-se que nem tudo tem a sua razão de ser, ou seja, que há algo de não inteligível na realidade.

  • E.

    No tocante à questão da origem do conhecimento, o racionalismo é a doutrina que ensina que todo conhecimento certo provém, necessariamente, de princípios a priori, irrecusáveis e evidentes, e que, por si sós, os sentidos não podem fornecer senão uma ideia confusa e provisória da verdade.

Tendo em vista a compreensão da técnica como forma de verdade dominante na experiência histórica do homem contemporâneo, segundo Heidegger, assinale a opção correta.

  • A.

    Para Heidegger, a ciência e a técnica se fundam em uma compreensão do ser como efetividade ou funcionalidade. A partir dessa compreensão do ser, subjetividade e objetividade se configuram como momentos funcionais, como energia e matéria, como insumo e recurso, empregados e processados na realização do real, cuja realidade vigora como produção, isto é, como causação e efetivação.

  • B.

    No pensamento de Heidegger, a teoria científica é uma simples contemplação e descrição objetiva do real.

  • C.

    No pensamento de Heidegger, ciência e técnica são coisas separadas. A técnica é a mera aplicação da ciência. A ciência vem antes da técnica, pois a ciência é teoria, e a técnica é prática.

  • D.

    Para Heidegger, ciência e técnica não abrigam em si nenhuma metafísica, pois são formas de pensar e agir antimetafísicas.

  • E.

    Na concepção de Heidegger, a técnica é somente um meio ou instrumento de ação a serviço do homem. Com esse meio, o homem pode fazer o bem ou o mal.

Para Heidegger, a ciência e a técnica constituem não somente se funda sobre uma compreensão do ser do ente, mas constitui mesmo uma experiência de verdade, ou seja, de desencobrimento do ente no seu ser. “O desencobrimento que domina a técnica moderna possui como característica o pôr, no sentido de explorar” (...). “Essa exploração acontece em um múltiplo movimento: a energia escondida na natureza é extraída; o extraído é transformado; o transformado, estocado; o estocado, distribuído; o distribuído, reprocessado. Extrair, transformar, estocar, distribuir, reprocessar são todos modos de desencobrimento”. “Todavia, esse desencobrimento não se dá simplesmente. Tampouco, perde-se no indeterminado. Pelo controle, o desencobrimento abre para si mesmo suas próprias pistas, entrelaçadas numa trança múltipla e diversa. Por toda parte, assegura-se o controle, pois controle e segurança constituem até as marcas fundamentais do desencobrimento explorador”. Entretanto, o perigo ou a ameaça da técnica não vem propriamente do uso que o homem faz dos artefatos técnicos, mas do totalitarismo dessa experiência de verdade: “A ameaça que pesa sobre o homem não vem, em primeiro lugar, das máquinas e dos equipamentos técnicos, cuja ação pode ser eventualmente mortífera. A ameaça, propriamente dita, já atingiu a essência do homem. O predomínio da com-posição arrasta consigo a possibilidade ameaçadora de se poder vetar ao homem a possibilidade de voltar-se para um descobrimento mais originário e fazer assim a experiência de uma verdade mais inaugural”.

Tendo em vista a compreensão da técnica como forma de verdade dominante na experiência histórica do homem contemporâneo, assinale a opção correta.

  • A.

    Heidegger parte da definição tradicional de verdade como “adequação do intelecto e da coisa”.

  • B.

    Para Heidegger, o maior perigo inserido no domínio da técnica sobre a vida do homem contemporâneo provém do uso mortífero ou destrutivo que o homem pode fazer das máquinas e dos equipamentos técnicos.

  • C.

    Na concepção de Heidegger, a maior ameaça da técnica reside no fato de ela ser uma experiência de verdade, dominante de modo totalitário na existência do homem contemporâneo, de tal maneira que o homem passa a desconhecer outras formas de verdade, mais originárias, mais inaugurais.

  • D.

    Segundo Heidegger a essência da técnica moderna e a da “tekhne” (arte) antiga são a mesma coisa: a produção, a poiesis.

  • E.

    Para Heidegger, só há a verdade em sentido predicativo, a verdade do juízo, a verdade do conhecimento. A técnica é um meio ou uma forma de ação do homem. Logo, ela não tem relação com verdade.

Além da crítica de Heidegger, há outras críticas à racionalidade técnica no pensamento contemporâneo. Há toda uma tradição crítica que vai de Max Weber aos principais nomes da Escola de Frankfurt. Um ano antes de sua morte, em 1919, o sociólogo Max Weber (1864-1920) saudava o novo espírito da modernidade, mas advertia que o “sutil manto da racionalização”, que inicialmente estava a serviço do mundo da vida, tornara-se uma ‘jaula de aço’, na qual os filhos da modernidade, no ápice da civilização ocidental, corriam o risco de se tornarem ‘especialistas sem espírito e hedonistas sem coração’. O ‘Nada’ seria o estado normal do ‘último homem’. A racionalização científica produzira um irreversível ‘desencanto’. Tendo comido do fruto da árvore do conhecimento, a humanidade tornava-se incapaz de fundar racionalmente valores últimos e escolhas de vida: “É o destino de nossa época com a sua característica racionalização e intelectualização e, sobretudo, com o seu desencanto do mundo, pois justamente os valores últimos e mais sublimes são retirados da esfera pública para refugiar-se no reino extramundano da vida mística ou da fraternidade de relações imediatas entre os indivíduos”.

Com referência a essa crítica de Max Weber, assinale a opção correta.

  • A.

    Segundo Weber, o domínio da racionalidade técnica leva a um encantamento do mundo, pois o homem se encontra cada vez mais fascinado com suas invenções e suas possibilidades de dominação e exploração do real.

  • B.

    Segundo Weber, o predomínio da racionalidade técnicocientífica torna o homem mais esclarecido e lhe favorece a consciência dos valores éticos e, por conseguinte, as tomadas de decisão, tanto na vida privada quanto na vida pública.

  • C.

    Weber entende que a racionalização do mundo da vida é fundamental para o progresso e que esse progresso é o sentido último da história do homem.

  • D.

    Weber analisa que a modernidade é regida por uma racionalidade formal: o que interessa acima de tudo é o perfeito funcionamento do sistema, da máquina social. O indivíduo desencantado resigna-se: cada um deve fazer a sua parte, a totalidade lhe foge. Nesse contexto, o indivíduo pode ser presa fácil de líderes carismáticos, de ditadores e de totalitarismos.

  • E.

    Para Weber, o progresso da racionalidade técnico-científica é uma libertação para o homem contemporâneo.

Em seu último escrito, Teses sobre o conceito de história (1940), Walter Benjamin propõe um método de análise da história, que, ao contrário do marxismo ortodoxo, não visa estabelecer, por meio da estrutura, as leis que dominam a história, mas antes a percorrer os seus desvios, a interrogar o que, sendo superestrutural, é também marginal, para ver nesses restos desfeitos a força explosiva que pode fazer que a história dê o salto da revolução, aquele salto que a livra dos vínculos de um continuum que tudo nivela, porque progride sem nunca poder salvar. Nessa perspectiva, ele afirma: “Marx diz que as revoluções são locomotivas da história. Talvez seja exatamente o contrário. Talvez as revoluções sejam o cabo do freio de emergência da humanidade que viaja nesse trem”.

Acerca das ideias expressas acima, assinale a opção correta.

  • A.

    Na concepção de W. Benjamin, o que é fragmentário não tem importância na leitura da história, pois o que importa é a visão do todo.

  • B.

    Na visão de W. Benjamin, é preciso ver o todo no fragmento. O todo no contínuo é uma visão distorcida produzida pelos vencedores.

  • C.

    O que é essencial na leitura da história de Walter Benjamin é a continuidade do processo histórico, o progresso que se dá em nível de estruturas fundamentais da realidade social.

  • D.

    Walter Benjamin considera que o que move a história são as revoluções.

  • E.

    Para Walter Benjamin, é importante narrar a história a partir dos vencedores, e não dos vencidos.

Em 1947, é publicado um livro fundamental da Escola de Frankfurt, ligada ao Instituto de Pesquisa Social: Dialética do iluminismo, de Max Horkheimer (1895-1973) e Theodor Adorno (1903-1969). Essa obra consiste justamente nessa contradição: que a ciência e a técnica, nascidas como instrumento da emancipação do homem, tenham se tornado fatores de opressão e alienação. Para Adorno, se a ideia da ciência é a pesquisa, a da filosofia é a interpretação.

A propósito dessas informações, assinale a opção correta.

  • A.

    Adorno e Horkheimer não partilham de uma concepção messiânica da história.

  • B.

    Por ser interpretação, a filosofia é desprovida de método.

  • C.

    Para os autores, a interpretação da realidade histórica deve privilegiar o que é contínuo, estrutural, forte, aquilo que é triunfante e racional; outro tipo de interpretação forja uma imagem distorcida da realidade histórica.

  • D.

    Para Adorno e Horkheimer, filosofia é construção de um conhecimento científico que abrange a totalidade da realidade histórica de maneira objetiva.

  • E.

    A concepção da história, em Adorno e Horkheimer, privilegia a negatividade, isto é, o que é fraco, sofrido e considerado como louco como elementos decisivos em que se pode insinuar algo como uma redenção.

A violência do princípio “saber é poder” (Francis Bacon), ou seja, a imposição da “técnica social”, da razão funcional, instrumental, tecnológica, com o seu afã de disponibilizar tudo, homens e coisas, perpassa totalmente a sociedade de nosso tempo, nas análises de Herbert Marcuse (1898-1979). A sociedade se torna um sistema funcional autoconstituído. É uma nova forma de “ditadura” ou “totalitarismo”. Agora, o totalitarismo já não provém deste ou daquele partido ou Estado, não tem cor, é anônimo. Mesmo a democracia é apenas uma aparência. Aparentemente, trata-se da “soberania do povo”, mas, em verdade, o que está em questão é a regência dos mecanismos estabelecidos pelo sistema. A dominação se tornou racional e a racionalidade, dominadora. Ninguém mais governa e todos são dominados. Dessa situação histórica surge o Homem unidimensional, título de um livro de Marcuse, de 1964. Assim, o mundo fica chato, isto é, plano (e monótono). A dominação ocorre não só por meio da tecnologia, mas como tecnologia. Paradoxalmente, a sociedade racional enterra, de vez, a ideia da razão.

Com relação às ideias expostas no texto acima, assinale a opção correta.

  • A.

    Marcuse vê no triunfo da razão instrumental e no surgimento do homem unidimensional a forma mais extrema de totalitarismo, que suprime a liberdade e o prazer da vida dos homens.

  • B.

    Marcuse considera o triunfo da razão instrumental como uma conquista da humanidade moderna, ou seja, como um processo que traz aos homens a plena satisfação de seus desejos, pois possibilita a eles participarem da fruição dos bens de consumo produzidos na civilização tecnológica.

  • C.

    Segundo Marcuse, a civilização tecnológica é a civilização da liberdade.

  • D.

    Na concepção de Marcuse, a forma de totalitarismo mais ameaçadora é a do Estado.

  • E.

    Para Marcuse, a democracia é uma das conquistas fundamentais dos Estados modernos.

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