Questões de Psiquiatria do ano 2020

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Atos violentos praticados contra a mulher são formas particulares de violência, sobre as quais falam os autores no excerto abaixo. Leia o texto, fazendo a necessária hermenêutica e inferindo, de seu conteúdo, a única resposta a ser assinalada como CORRETA.
“O termo violência, de natureza polissêmica, é utilizado em muitos contextos sociais. Como exemplo, podemos pensar que o termo violência pode ser empregado tanto para um homicídio quanto para maus-tratos emocionais, verbais e psicológicos. Na esfera conjugal manifesta-se com frequência através dos maus-tratos; ao submeter a mulher a práticas sexuais contra a sua vontade; maus-tratos físicos, isolamento social; ao proibir o uso de meios de comunicação e o acesso aos cuidados de saúde; a intimidação. No ambiente profissional observa-se a presença de assédio moral. Aviolência foi definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002) como o 'uso intencional da força ou poder em uma forma de ameaça ou efetivamente, contra si mesmo, outra pessoa ou grupo ou comunidade, que ocasiona ou tem grandes probabilidades de ocasionar lesão, morte, dano psíquico, alterações do desenvolvimento ou privações'. A violência é uma questão social e, portanto, não é objeto próprio de nenhum setor específico. Segundo Minayo (2004), ela se torna um tema mais ligado à saúde por estar associada à qualidade de vida; pelas lesões físicas, psíquicas e morais que acarreta e pelas exigências de atenção e cuidados dos serviços médico-hospitalares e, também, pela concepção ampliada do conceito de saúde. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde seria o completo bem – estar físico, mental, social e espiritual dos indivíduos.” (Lívia de Tartari e Sacramento; Manuel Morgado Rezende, “Violências: lembrando alguns conceitos”, in Aletheia n.24 Canoas dez. 2006). Fonte http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-03942006000300009)

    A) No ambiente profissional, uma das formas mais frequentes de violência contra a mulher decorre de assédio moral – matéria que escapa à esfera de abordagem psiquiátrica, uma vez sendo questão de interesse apenas para o Direito Trabalhista.

    B) Na esfera conjugal, a violência contra a mulher pode se manifestar sob a forma de maus tratos físicos ou psicológicos, submissão sexual, isolamento social, intimidação etc., sendo, todos esses fatores, passíveis de investigação em abordagem clínico-psiquiátrica de paciente com queixas orgânicas difusas e história de mau relacionamento marital.

    C) “Violência foi definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002) como o uso inintencional da força ou poder em uma forma de ameaça ou efetivamente, contra si mesmo, outra pessoa ou grupo ou comunidade, que ocasiona ou tem grandes probabilidades de ocasionar lesão, morte, dano psíquico, alterações do desenvolvimento ou privações”.

    D) A violência, v.g., doméstica, é tema transversal à saúde por estar associada à qualidade de vida e não por estar vinculada a uma concepção ampliada do conceito de saúde.

    E) Porque “Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher” não cabe ao psiquiatra, por conta de fatores éticos (notadamente quanto ao exposto no Artigo Primeiro do Capítulo III – Responsabilidade Profissional – do Código de Ética Médica do C.F.M.), imiscuir-se na vida conjugal de casal que vive “entre tapas e beijos”.

Ainda sobre o suicídio, enquanto urgência/emergência psiquiátrica, marque a alternativa CORRETA.

    A) O risco suicida, em adulto religioso, sem histórico pessoal de uso de drogas ilícitas, sem antecedentes de suicídio em família não disfuncional, mas que apresente quadro de depressão reativa branda, é elevado.

    B) A prática autodestrutiva, seja sob a forma de suicídio frustro ou consumado, seja-o sob forma de “suicídio policial” (ou por pessoa interposta) ou parassuicídio, não importa, frequentemente está associada a transtornos afetivos.

    C) As “chantagens suicidas” são totalmente desprovidas de elementos preditivos para o suicídio, qualquer que seja a sua forma, vez que chantagens emocionais pertencem à alçada do psicólogo, não do psiquiatra.

    D) É baixíssimo o risco suicida em um médico idoso e sem filhos, aposentado, usuário de álcool, com história familiar de suicídio e em distimia disfórica e anedonia por conta de viuvez há pouco tempo instalada.

    E) A posvenção, na abordagem clínica das práticas autodestrutivas, deve ser aplicada urgentemente apenas à pessoa que pratique o suicídio frustro – vez que os casos de suicídio consumado cabem apenas à Medicina Legal.

Sobre o suicídio, enquanto urgência/emergência psiquiátrica, marque a alternativa CORRETA.

    A) Não necessitam de suporte psicológico-psiquiátrico pessoas que a todo tempo ameaçam se matar – até porque tais pessoas, geralmente histéricas, apenas ameaçam, não se matam.

    B) Frente a paciente com ideias autodestrutivas, a avaliação de risco suicida comporta elementos psiquiátricos, como o tipo de transtorno afetivo e sua gravidade; existência ou não de elementos médico-gerais, como complexo HIV / AIDS; elementos demográficos, como a idade; elementos sociais, como o estado civil; elementos relacionados ao comportamento audestrutivo, como tentativa suicida anterior, mas não elementos familiares, como história familiar de suicídio pois, de resto, tirar a própria vida é apenas questão pessoal.

    C) Inquirir sobre a intensidade e frequência de ideias suicidas; avaliar se o paciente apresenta plano definido para cometer suicídio; investigar se o paciente possui os métodos e os meios para concretizar o suicídio; e descobrir se a pessoa fixou alguma data para cometer suicídio são questões que devem ser sempre esclarecidas em entrevista clínico-psiquiátrica de paciente com ideação autodestrutiva.

    D) Nas depressões, a avaliação de risco suicida é matéria de menor importância, vez que conhecer ou não conhecer fatores de risco para o suicídio não permite predizer com exatidão se e quando e por que o paciente cometerá ou não suicídio.

    E) Religião, religiosidade e crenças morais não são elementos protetores contra o suicídio a serem levados em consideração nas avaliações de risco autodestrutivo.

Sobre o suicídio, enquanto urgência/emergência psiquiátrica, assinale a alternativa CORRETA.

    A) Menos que indício de agravamento de ideias auto-destrutivas, tentativas suicidas repetitivas sobretudo evidenciam traços histéricos de personalidade da parte de indivíduos que, por conta de tal constituição personalista, raramente se matam.

    B) O suicídio é transtorno mental sempre complexo, multidimensional, porque resultante de uma profunda interação entre fatores biológicos, psicológicos e sócio-culturais.

    C) O suicídio pode ser epifenômeno – e não, obrigatoriamente, sinônimo – de transtorno mental.

    D) Sem quaisquer implicações ético-jurídicas, qualquer suicídio é apenas matéria clínico-psiquiátrica ou médico-legal.

    E) A avaliação psiquiátrica para a predição/prognóstico de risco suicida e sua gravidade não necessita incluir a investigação da existência (ou não) de fatores de risco (modificáveis ou fixos) e fatores protetores relativos ao paciente.

Sobre Nosologia/Nosografia em Psiquiatria, assinale a alternativa CORRETA.

    A) O Transtorno do Pânico requer diagnóstico diferencial com doenças endócrinas, cardiovasculares, pulmonares e neurológicas, dentre outras.

    B) Todo mundo experimenta ansiedade – uma sensação difusa, desagradável e vaga de apreensão, raramente acompanhada de sintomas neurovegetativos.

    C) A ansiedade, inclusive quando adaptativa, é sempre indicativa de transtorno mental a ser melhor investigado e farmacologicamente abordado.

    D) A mania é sintoma psiquiátrico típico e específico dos Transtornos Afetivos (Transtorno Bipolar I e II, Depressão Maior e Ciclotimia).

    E) Iniciar-se na juventude, instalar-se sem fatores precipitantes conhecidos, apresentar sintomas negativos e história familiar de transtornos do humor são fatores que conferem aos transtornos esquizofrênicos bom prognóstico.

Acerca da Psicofarmacoterapia, assinale a alternativa CORRETA.

    A) Sabe-se que, em pacientes deprimidos e com ideação suicida, os antidepressivos, notadamente aqueles classificados como Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina, melhorando-lhes a vontade, mas não os impulsos autodestrutivos, podem induzir a suicídio frustro ou consumado – por isso devendo, em tais casos, ser proscritos da terapêutica farmacológica clínico-psiquiátrica.

    B) Os Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina, dada a elevada probabilidade de produção de ansiedade de rebote, devem ser proscritos na terapêutica farmacológica dos quadros clínicos em que exista sintomatologia obsessivo-compulsiva, ali devendo ser prescritos, preferentemente apenas ansiolíticos benzodiazepínicos.

    C) A Eletroconvulsoterapia (ECT) deve sempre ser proscrita, notadamente nos casos de depressão grave, não reativa a esquema terapêutico-farmacológico.

    D) Em casos de transtornos delirantes induzidos pelo uso abusivo de álcool (Delirium tremens, v.g.), os ansiolíticos estão formalmente contraindicados, por conta da possibilidade de produção de depressão respiratória, notadamente em paciente com dano hepático.

    E) Os antidepressivos denominados Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina são amplamente utilizados nos Transtornos de Ansiedade, comumente associados a ansiolíticos.

Sobre políticas públicas de saúde, temos que é isto o que diferencia os serviços prestados pelo CAPS III dos demais serviços substitutivos:

    A) Atende a pessoas com sofrimento e/ou transtornos mentais graves e persistentes. Proporciona serviços de atenção contínua, com funcionamento 24 horas/dia, incluindo feriados e finais de semana, ofertando retaguarda clínica e acolhimento noturno a outros serviços de saúde mental, inclusive CAPS Ad.

    B) Atende a pessoas com transtornos mentais graves e persistentes e a pessoas em sofrimento psíquico ou com transtorno mental em geral, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas.

    C) Fornece medicamentos e assessora usuários e seus familiares quanto à sua aquisição e administração.

    D) Sua equipe é formada por profissionais de nível superior, profissionais de nível médio e auxiliares para suporte em limpeza, cozinha e segurança patrimonial.

    E) Oferece diversos tipos de atividades terapêuticas, tais como terapia individual ou de grupo, oficinas terapêuticas, atividades comunitárias, atendimento aos familiares e visitas domiciliares, além de orientação e acompanhamento quanto ao uso de medicação.

Em uma entrevista psiquiátrica, a depender da orientação epistemológica a que obedeça uma dada prática psiquiátrica, se calcada em um Modelo Bio-Médico ou em um Modelo baseado nos princípios de uma Medicina Humanizada, os dados coligidos são interpretados diferentemente. Sobre isso, assinale a única alternativa CORRETA.

    A) Religião, até porque a psiquiatria deve ser laica, no Prontuário de Atendimento, é apenas dado a ser coligido com finalidades estatísticas, vez que aspectos religiosos nunca interferem em práticas médicas.

    B) Para a psiquiatria, quer seja praticada em moldes bio-médicos, quer humanísticos, o nome do paciente é apenas um dado burocrático, devendo, o paciente, ser chamado obrigatoriamente pelo nome constante no Prontuário de Atendimento.

    C) No Prontuário de Atendimento, o endereço ou procedência é dado que apenas serve para eventual localização do paciente e/ou seus familiares, não se prestando a fornecer informações indiretas e/ou a priori sobre o status sócio-econômico familiar a que possam pertencer.

    D) Para uma psiquiatria de base bio-médica, sexo é dado biológico; para uma psiquiatria de base humanística, gênero é dado sóciocultural. Para a primeira, raça remete sobretudo à predição estatística de transtornos; para a segunda, raça é etnia e possibilidade de variação cultural dos costumes.

    E) Mais importante que o estabelecimento de um bom rapport entre entrevistador e entrevistado, o que mais interessa, em uma entrevista/anamnese psiquiátrica, é firmar, o mais rapidamente possível, o diagnóstico definitivo de um dado transtorno mental.

Sobre Psicopatologia Geral, assinale a alternativa CORRETA.

    A) Mesmo quando intenso e desprovido de crítica, o ciúme é facilmente diferenciável do delírio erotomaníaco (ou de Clérambault) – o qual, de resto, não representa interesse de investigação e análise no campo da Psiquiatria Clínica nem Forense.

    B) Com relação à função psíquica da Atenção, temos que tenacidade é a capacidade de mudar o foco da atenção, constantemente, para vários e diferentes estímulos, enquanto vigília (ou vigilância) é a capacidade de manter preso o foco da atenção em apenas um objeto, durante longo tempo.

    C) Assim como o mutismo e o negativismo são elementos semiológicos ditos “negativos” comuns nos Transtornos Esquizofreniformes, é exclusivamente nas Neuroses que ocorre ansiedade.

    D) Sendo, uma ilusão, distorção sensoperceptiva de objeto real e concreto, uma alucinação é percepção anobjetal.

    E) Enquanto à Psicopatologia Fenomenológico-Descritiva interessa a análise dos fatores subconscientes determinantes do conteúdo de sintomas psíquicos, à Psicopatologia Dinâmica interessa descrever e classificar tais tipos de sintomas.

Sobre Ética em Psiquiatria, marque o CORRETO.

    A) O psiquiatra que trabalha em Instituição Pública de Saúde pode e deve fornecer a terceiros, não-familiares e não representantes legais, informação alusiva a paciente sob seus cuidados, considerando o Princípio da Transparência que deve reger os Serviços Públicos.

    B) Embora os Princípios da Bioética sejam três, respectivamente, a Autonomia, a Não-maleficência e a Justiça, o primeiro não se aplica ao portador de transtornos mentais, dada a sua condição de pessoa destituída de Razão e, por conseguinte, sem capacidade de escolha.

    C) É ético o psiquiatra participar de execução penal legalmente autorizada, nos países onde existe a pena de morte.

    D) O psiquiatra não pode e não deve, em nenhuma circunstância, fornecer informação confidencial sobre paciente sob seus cuidados, ainda que mediante determinação/intimação judicial.

    E) Não é conduta ética, ainda quando por conta de eventual imposição policial e sob pena de punição, participar, o psiquiatra, direta ou indiretamente, da aplicação de tortura.

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