Questões de Filosofia do ano 2005

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Em sua reflexão sobre a tradição filosófica, Heidegger utiliza a expressão "esquecimento do ser" para referir-se ao extravio da metafísica ocidental, que consiste em pensar o ser em função do ente. Tal extravio tem seu início com

  • A.

    os pré-socráticos, quando estes operam a transformação do sentido mítico da verdade, concebido como arkhé, em verdade concebida como alethéia.

  • B.

    Platão, quando este identifica o ser com as idéias, operando a transmutação do sentido da verdade como alethéia em verdade concebida como orthótes.

  • C.

    Nietzsche, quando este concebe o niilismo como eliminação da diferença entre mundo sensível e supra-sensível, iniciando a homogeneização dos entes

  • D.

    Descartes, quando este, através da certeza indubitável do cogito, privilegia o sujeito como o último fundamento de todos os outros entes.

  • E.

    Aristóteles, quando este concebe a verdade como adequação do pensamento à realidade, do enunciado à coisa, operando a transmutação da alethéia em orthótes

Ao apresentar a fenomenologia, Danilo Marcondes afirma,

em seu livro Iniciação à História da Filosofia, que Husserl

"...considera sua tarefa basicamente como descritiva dos

elementos mais básicos de nossa experiência". Husserl via

a filosofia como uma "ciência rigorosa" e atribuía à teoria do

conhecimento um lugar central em seu pensamento. Esta

proposta se realiza através de uma

  • A.

    volta à perspectiva epistemológica da modernidade, de fundamentação ou legitimação do conhecimento científico e intersubjetivo.

  • B.

    teoria que analisa a atitude natural ou espontânea em que se constituem nossas crenças, fundamentando-a de modo rigoroso.

  • C.

    tentativa de chegar ao "dado" da consciência, isto é, às coisas em si mesmas, a partir da suspensão de nossas crenças habituais.

  • D.

    superação da crise da filosofia da consciência através da crítica radical ao psicologismo e à sociologia reducionista do "mundo da vida".

  • E.

    investigação lógica que elimina toda referência à consciência e à intencionalidade, analisadas criticamente pelo recurso à époche ou "suspensão".

Na literatura sobre ensino de filosofia, a idéia de "pensamento crítico" envolve, necessária e recorrentemente,

  • A.

    a denúncia da semiformação promovida pela sociedade do espetáculo.

  • B.

    a discussão sobre a própria presença da disciplina na escola

  • C.

    amplo conhecimento da história da filosofia e dos problemas filosóficos

  • D.

    relação com as experiências, demandas e interesses dos estudantes.

  • E.

    elaboração conceitual, procedimentos argumentativos e problematização

No que diz respeito às estratégias metodológicas no ensino de filosofia, a maioria dos autores que tratam do assunto considera necessário

  • A.

    promover a inteligibilidade através do contato com a ordem das razões implícita na teoria escolhida pelo professor.

  • B.

    promover a leitura de textos filosóficos como a principal estratégia para incentivar os estudantes a aprender filosofia de modo rigoroso.

  • C.

    realizar debates em sala visando ao desenvolvimento de análise detalhada de teorias concorrentes.

  • D.

    definir um conjunto de condições mínimas que possibilitem alcançar os objetivos do ensino de filosofia.

  • E.

    valorizar a tradição filosófica e realizar o seu exame visando à relativização das diversas doutrinas.

Procurando fazer abstração das diversas e significativas diferenças na compreensão que se tem do que seja filosofia e do que deva ser o seu ensino, é possível afirmar que as questões sobre como ensinar essa disciplina em nível introdutório dificilmente podem ser tratadas apenas de uma perspectiva didática, pois

  • A.

    como disse Kant, não é possível ensinar filosofia, mas apenas a filosofar, e essa é uma tarefa que cabe apenas ao filósofo, não ao pedagogo.

  • B.

    todo e qualquer ensino de filosofia pressupõe a dúvida, a crítica e, sendo assim, também os métodos e conteúdos devem ser relativizados desde o início.

  • C.

    a questão sobre o que é filosofia é, nesse nível de ensino, ao menos recorrente, e o modo de lidar com ela envolve, desde já, um posicionamento filosófico.

  • D.

    ensinar filosofia é, por definição, ensinar a pensar por si mesmo, enquanto os métodos e técnicas de ensino já vêm prontos e acabados

  • E.

    não existe até hoje um trabalho consistente em didática filosófica, o que implica realizar um questionamento desde já propriamente filosófico.

Ao apresentarem e discutirem as competências específicas da filosofia, os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM) entendem que "debater, tomando uma posição, defendendo-a argumentativamente e mudando de posição face a argumentos mais consistentes" é

  • A.

    a única competência com a qual se articula o objetivo de interpretar/traduzir os conhecimentos essencialmente abstratos da filosofia, a partir de uma prática dialógica e da mediação, articulada ao exercício da contextualização.

  • B.

    a competência a partir da qual melhor se poderia trabalhar a percepção e análise crítica do cenário de fragmentação cultural em que estamos imersos, tendo em vista os processos de autonomia das esferas da ciência, do direito e da arte.

  • C.

    uma competência que não diz respeito apenas à filosofia, sendo relevante para a competência global de aprender a aprender, embora seja também qualificada como "síntese" das demais competências especificamente filosóficas.

  • D.

    uma proposta indispensável, por mobilizar todas as competências, mas que deve ser trabalhada com cuidado para não incidir diretamente sobre o conteúdo programático, o que pode inviabilizar o planejamento do professor.

  • E.

    parte essencial do ensino filosófico, mas que não deve dar a entender que se possa sempre determinar qual o argumento mais consistente, ou que este seria suficiente para levar alguém a mudar automaticamente sua posição.

De acordo com a seção dedicada aos "Conhecimentos de Filosofia" dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM), o problema inicial para se pensar o ensino de filosofia no nível médio reside na clássica pergunta: "o que é filosofia?" Ao se deterem na questão da variedade de perspectivas da tradição filosófica, os PCNEM sugerem que o professor tenha em mente:

  • A.

    o recurso à interdisciplinaridade como principal método de aproximação dos alunos ao universo dos filósofos e suas doutrinas.

  • B.

    o desenvolvimento de habilidades específicas da filosofia, tais como leitura de textos filosóficos, análise e articulação de conceitos.

  • C.

    a ênfase em teorias filosóficas que melhor se aproximem de problemas contemporâneos e que sejam familiares ao professor.

  • D.

    a especificidade da atividade filosófica, que inclui sua pretensão de verdade e, sobretudo, sua natureza reflexiva.

  • E.

    uma seleção de teorias representativas de cada período histórico visando a oferecer um panorama abrangente da história da disciplina

No que se refere à defesa da leitura do texto filosófico como sendo essencial para o ensino de filosofia no nível médio, alguns dos autores que abordam o tema alegam que

  • A.

    a proposta de ensino por competência exige que as disciplinas contribuam com suas habilidades específicas para a competência geral da leitura

  • B.

    a tese de Kant segundo a qual não é possível aprender filosofia, mas apenas a filosofar é insustentável.

  • C.

    a defesa do debate como competência central para o ensino de filosofia em nível introdutório é um equívoco.

  • D.

    a interação direta com o texto filosófico é um elemento necessário para a aproximação do aluno ao questionamento filosófico.

  • E.

    apenas um suporte estritamente filosófico impede que a interdisciplinaridade se transforme em um conjunto de generalidades vazias.

Uma proposta que NÃO é listada pelos PCNEM como uma das competências e habilidades a serem desenvolvidas no ensino da filosofia é:

  • A.

    "Ler textos filosóficos de modo significativo".

  • B.

    "Traduzir conceitualmente concepções do senso comum".

  • C.

    "Debater, defendendo uma posição argumentativamente".

  • D.

    "Elaborar por escrito o que foi apropriado de modo reflexivo".

  • E.

    "Contextualizar conhecimentos filosóficos em diversos planos".

Ao discutir a importância da interdisciplinaridade, a parte específica de filosofia dos PCNEM afirma que a filosofia,

  • A.

    por sua natureza intrinsecamente transdisciplinar, pode cooperar decisivamente para a articulação teórica e conceitual do currículo.

  • B.

    por ser "mãe das ciências", deve funcionar como referência para as outras disciplinas, agrupando e dando sentido aos diversos saberes

  • C.

    em função de ser um conhecimento acessível a todos, tem a vantagem de poder ser trabalhada sem a presença disciplinar ou de um "especialista".

  • D.

    pelo seu grau de generalidade, serve no máximo como animadora dos debates, não como tradução conceitual das outras disciplinas em suas especilidades.

  • E.

    por não ser um saber especializado, deve ser um dos principais agentes na busca de uma necessária "visão de conjunto", integrando os elementos da cultura.

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