Questões de Sociologia da FUNRIO Fundação de Apoio a Pesquisa, Ensino e Assistência (FUNRIO)

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Embora seja recorrente o tratamento do Direito a partir dos binômios formalismo do Direito e a realidade social, lei e fatos, Clifford Geertz visa lançar uma interpretação simétrica a respeito dos princípios jurídicos. Para o autor, a construção do princípio jurídico é definida pelo contexto particular em que o Direito se constrói e se apresenta. A parte jurídica do mundo não é simplesmente um conjunto de normas, regulamentos e princípios, mas faz parte das maneiras específicas de imaginar a realidade. Do ponto de vista do autor, portanto, o julgamento é fruto

  • A.

    da capacidade do juiz em interpretar os fatos a partir de seu livre convencimento.

  • B.

    das interpretações levadas a cabo pelos diferentes atores a respeito de um caso.

  • C.

    da capacidade de um sistema jurídico em conjugar na descrição de um evento o conjunto de significados e percepções das experiências locais.

  • D.

    da análise crítica e acurada dos agentes públicos responsáveis pela administração dos conflitos.

  • E.

    das representações coletivas sobre as ações dos agentes sociais sobre os fatos.

Segundo o sociólogo Michel Misse, a reação moral e normalizadora que vincula o consumo de diferentes tipos de substâncias a vícios de comportamento é a principal causa de criminalização de drogas ilícitas, embora não haja comprovação de que, apenas e exclusivamente, o uso das mesmas seja causa isolada de comportamentos violentos entre tais consumidores. A repressão que se segue a tais práticas e comportamentos, segundo o autor, é

  • A.

    maior ou menor, em função da desvalorização que o consumidor dispense ao fato de que deve ele mesmo manter o autocontrole.

  • B.

    inversamente proporcional ao segmento social a que pertença o consumidor.

  • C.

    diretamente proporcional à tipificação penal em que se enquadre o consumidor, de acordo com a substância ingerida.

  • D.

    sancionamento negativo que visa repreender a capitulação ao papel sedutor que tais práticas exercem, sobre o indivíduo moderno, no desprezo às previsões normativas.

  • E.

    punição à conduta desrespeitosa da lei, que se veicula legitimamente em decorrência de ser expressão de um contrato social amplo e aplicável indistintamente aos distintos segmentos sociais.

O trabalho do antropólogo se constitui em olhar, ouvir e escrever. Essa afirmação de Roberto Cardoso de Oliveira, no entanto, separa essa produção em dois momentos. Um primeiro seria caracterizado pelas práticas dominantes de olhar e ouvir, fundamentos para as interlocuções e coletas de dados no trabalho de campo. Escrever caracterizaria o segundo momento. Atividade externa ao campo, ela se daria no ambiente institucional a que pertence o pesquisador, para produção de um texto reflexivo sobre a primeira etapa. O autor afirma que o pesquisador, no exercício de seu ofício, goza de autonomia epistêmica, que deve ser mediada de forma a que a interpretação dos dados seja balizada pelas categorias e conceitos básicos constitutivos da disciplina. Para que se assegure que essa autonomia esteja vinculada aos dados empíricos, é necessário

  • A.

    submeter o texto produzido, em função dos dados coletados, ao crivo dos principais interlocutores no campo.

  • B.

    relatar, descritivamente, as situações vivenciadas no campo, privilegiando o detalhamento dos dados de maneira a possibilitar exercícios comparativos por analogia.

  • C.

    permitir sempre o controle dos dados pela comunidade profissional.

  • D.

    equilibrar a veiculação dos dados de natureza qualitativa e quantitativa, de forma a possibilitar o controle recíproco das variáveis.

  • E.

    retomar o trabalho de campo, após concluído o texto, para submissão das hipóteses veiculadas na conclusão do mesmo a novas observações direta e participante.

“Ao pensar uma representação, é fácil supor que o conteúdo da encenação é somente uma extensão expressiva do caráter do ator e ver a função da representação nestes termos pessoais. Essa é uma concepção limitada e pode obscurecer diferenças importantes na função da representação para a interação como um todo” (GOFFMAN. Erving (1985). A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis: Editora Vozes. P: 76) As contribuições de Erwing Goffman para a Sociologia foram inúmeras, tendo provocado significativas mudanças teóricas e metodológicas. Uma das contribuições originais do autor foi a

  • A.

    demonstração de que os indivíduos em interação buscam dissimular suas identidades para maximizarem seus lucros.

  • B.

    compreensão de que a Sociologia deve se preocupar sobre o lugar das representações sociais na organização coletiva.

  • C.

    ênfase dada ao caráter dramatúrgico das interações dos atores e a conseqüente pluralidade na composição das identidades.

  • D.

    demonstração de que os atores representam na vida cotidiana para exprimirem suas vontades e sentimentos.

  • E. ênfase destinada ao lugar das representações coletivas na constituição dos fatos sociais.

Em seu texto “A sociedade contra o Estado” Pierre Clastres afirma que as sociedades primitivas, objeto tradicional da Antropologia nas primeiras décadas de institucionalização da disciplina, não estariam condenadas à economia de subsistência em razão de uma pretensa inferioridade tecnológica. O argumento do autor se sustenta, fundamentalmente,

  • A.

    na compreensão de que a divisão do trabalho entre homens e mulheres propiciava excedentes que possibilitavam trocas para além das necessidades básicas do grupo.

  • B.

    no entendimento de que as sociedades primitivas dominavam o meio natural adaptado e relativo às suas necessidades.

  • C.

    na idéia de que os grupos nessas sociedades dominavam absolutamente a natureza e, dessa forma, proviam de forma equilibrada e igualitária as necessidades básicas da sociedade.

  • D.

    na convicção de que, por se tratarem de sociedades sem Estado, não havia necessidade de produção de excedentes para a manutenção de grupamentos voltados para o exercício da guerra.

  • E.

    na comprovação empírica de que as trocas entre grupos de distintas sociedades como, por exemplo, o casamento, possibilitava o uso compartilhado de variados recursos naturais.

Luis Roberto Cardoso de Oliveira ressalta um aspecto importante no que diz respeito à ação afirmativa como política social: o Estado precisa valorizar, em situações específicas, determinados grupos sociais e, assim, contemplar a igualdade de acesso aos direitos de cidadania. Neste sentido, o autor

  • A.

    estabelece uma dimensão importante, porque coloca em xeque o desprezo às diferenças, sempre presente em sociedades hierarquizadas como a sociedade brasileira.

  • B.

    estabelece uma dimensão importante quando consideramos sociedades com forte ideologia individualista como a sociedade americana, visto que se trata de direitos coletivos em confronto com a ótica liberal.

  • C.

    estabelece uma dimensão importante porque destaca a relevância da relativização dos direitos em sociedades individualistas, como a sociedade americana.

  • D.

    fortalece a relevância de uma política compensatória em países com tradição histórica de discriminação racial.

  • E.

    questiona a tradição liberal e estabelece uma nova lógica de implantação de direitos.

Para Roberto Da Matta, a pergunta deve ser evitada no Brasil. Isso pode ser explicado porque, segundo o autor, a pergunta

  • A.

    está ligada a um processamento jurídico denominado inquérito, sempre acionado quando há suspeita de pecado ou de crime.

  • B.

    denota um interesse, podendo ser considerado negativo, dependendo de quem seja o interlocutor.

  • C.

    está vinculada ao procedimento jurídico denominado inquérito, sempre acusatorial.

  • D.

    supõe a possibilidade de questionamento a respeito da justiça social no Brasil, o que não condiz com os princípios hierárquicos que caracterizam a sociedade brasileira.

  • E.

    expõe os hipossufientes a uma situação socialmente vexatória ampliando a desigualdade social existente na sociedade brasileira.

Os programas empreendidos pelas reformas protestantes, segundo Weber, levaram a mudanças profundas nas sociedades ocidentais, o que permitiu, segundo ela, a ascensão e a consolidação do que chamou de espírito do Capitalismo que se deu

  • A.

    em decorrência da alteração da superestrutura da sociedade fundamental, permitindo a substituição dos modos de produção.

  • B.

    em virtude da veiculação e da concepção do trabalho e do lucro como mecanismos de ligação com Deus e salvação da alma.

  • C.

    por conta das fortes vinculações entre a burguesia ascendente e o clero estabelecido, possibilitando a consolidação do Capitalismo.

  • D.

    por motivações filosóficas que levaram à substituição de uma lógica deísta por uma racionalidade científica e econômica.

  • E.

    por evolução natural do sistema produtivo, em função das mudanças de base técnicas e tecnológicas.

Segundo Roberto Kant de Lima, os conflitos sociais se distinguem em virtude das características culturais que informam as práticas e representações dos agentes sociais. A forma como se concebem os conflitos nas sociedades dos Estados Unidos da América e do Brasil, de acordo com o autor, é que

  • A.

    nos Estados Unidos, os conflitos estão representados como resultado da homogeneidade social, enquanto no Brasil os conflitos são representados como resultado da heterogeneidade social.

  • B.

    a representação dos conflitos nos Estados Unidos está associada à intolerância com as diferenças raciais. No Brasil, a representação dos conflitos está associada à cordialidade do povo brasileiro.

  • C.

    nos Estados Unidos os conflitos são marcados pelo seu caráter implícito enquanto, no Brasil, os conflitos são marcados pelo caráter explícito.

  • D.

    a representação dos conflitos nos Estados Unidos da América está associada ao embate produzido por pontos de vista diferentes de indivíduos iguais que se opõem. No Brasil, a representação dos conflitos está associada a uma diferença formal entre pessoas diferentes que se complementam.

  • E.

    a representação dos conflitos nos Estados Unidos da América está associada à negação da diferença. No Brasil, a representação dos conflitos está associada à aceitação da diferença.

Tomando como referência a década de 30, do século XX, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos faz uma análise acerca da política social brasileira após 1964. A revolução de 1930, segundo ele, inaugurou um período de transformações econômicas e sociais com as diversas reformas empreendidas pelo Governo Vargas. No âmbito das reformas jurídicas, há um gradual processo de expansão da cidadania que o autor classifica como

  • A.

    cidadania relacional.

  • B.

    cidadania regulatória.

  • C.

    estadania.

  • D.

    cidadania de ocupação.

  • E.

    cidadania regulada.

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